TAXA DE NATALIDADE Vs ABORTO
Não sei bem como apelidar o argumento dos partidários da não despenalização do aborto, quando se escusam com a fraca taxa de natalidade. Imbecil acho que seria uma boa caracterização, mas não encerra ensimesmado toda a carga ignorante e naïf que acarreta uma afirmação desta dimensão. Recentemente esta desculpa foi proferida por figura ilustre da nossa praça, no caso Nogueira de Brito. Ontem, após a entrega das não sei quantas mil assinaturas para a inscrição de mais um movimento apoiante do Não, na campanha para o referendo (já perdi a conta de quantos grupos, movimentos e correntes existem a favor do Não), este senhor proferiu que era um contra-senso dado o panorama da natalidade em Portugal estarmos a falar da despenalização voluntária da gravidez. Eh pá! Com um argumento destes... acho que até eu vou votar não! Defender a penalização do aborto, como incentivo à natalidade é, sem sombra de dúvida, uma ideia brilhante! Realmente, o que precisamos neste país com uma mentalidade ainda retrógrada, graves clivagens sociais e com uma fraca economia, são mais bebés não desejados. Queremos mais jovens a abandonar o normal percurso escolar por serem pais prematuros, queremos mais crianças mal amadas no país, queremos mais maus tratos infantis, queremos mais crianças perdidas sem qualquer orientação parental, queremos mais delinquentes juvenis, queremos mais bebés nos refúgios e centros de acolhimento, queremos mais abandonos pueris à beira de contentores do lixo, queremos mais jovens mães apontadas nas ruas por uma população com mentalidade ainda medieval (provavelmente os mesmos que defendem o Não ao aborto), queremos mais filhos de pais incógnitos, queremos mais processos Casa Pia, queremos mais mulheres a entrar de urgência nos hospitais com graves hemorragias causadas por um aborto executado clandestinamente, porque tudo isto é notícia e é do que falamos no quotidiano. Falemos seriamente sobre o aborto, mas por favor, não insultem a inteligência do povo português com falsos argumentos. Eu também sou a favor de reais incentivos à taxa de natalidade, mas para mim estes passam por outros vectores, como a flexibilidade laboral e contrapartidas (infelizmente essenciais) de índole económica. Sem isso, a nossa taxa de natalidade não cresce. Acredite numa coisa Sr. Nogueira de Brito, não é com os 20,97 € de abono de família que recebo mensalmente pelo meu filho (espero que este ano seja aumentado, para pelo menos 21 €), que conseguirei educá-lo... No entanto, eu não me posso queixar muito. Casos existem verdadeiramente gravosos e geradores de autênticos dramas sociais. Nós os privilegiados, temos de pensar um pouco nos menos afortunados...
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