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sábado, fevereiro 17, 2007

O FETICHE PASSADEIRA

A passadeira de peões encerra em si mesma, uma aura mística difícil de explicar por palavras mortais. Talvez quem o poderia fazer melhor seria Eça de Queirós, esse vulto da literatura clássica portuguesa, com as suas descrições pormenorizadas (leia-se – enfadonhas). Mas, acho que no tempo dele ainda não havia passadeiras... A Passadeira transpira Poder! É verdade incauto leitor – Poder! O vulgar transeunte vê na Passadeira, a grande arma para se impor aos carros maléficos, que tomam de assalto as localidades do país. Claro está que todo o bom Português tem uma relação estranha com o poder... É interessante constatar como a relação do Peão com a Passadeira, varia consoante o sexo. Assim, a fêmea quando se abeira da passagem para peões e repara que o automobilista vai parar, passa a estrada muuuuuito devagar. Num movimento único, sacode violentamente as ancas, como que a compensar o simpático automobilista que cumpriu a obrigação de parar na passadeira. Ao vê-la passar é como se tivéssemos no Sambódromo, na presença de uma mulata de 1,90 m que abana sofregamente os quadris ao ritmo da música. A diferença aqui é que o movimento é feito em câmara lenta, como que para se perpetuar no tempo, e que a mulata pode efectivamente ser uma senhora de idade e de saia travada e celulite nos joelhos. Esta é a relação da mulher com o poder. Tenta contorná-lo com as suas torneadas coxas... No caso do macho o caso é parecido. Não pela parte de abanar o traseiro, mas pela marcha lenta que emprega ao passar a estrada. O macho está à beira do passeio e vê um carro ao fundo, que parece vir com velocidade excessiva para conseguir parar na passadeira. Ele olha fixamente para o veículo, na tentativa de imobilizá-lo, qual vidente Alexandrino e seus dotes de hipnotismo. O olhar intimidador prolonga-se durante a passagem da estrada, como se o carro obedecesse às suas ordens, ao poder da sua mente. Parece quase uma animal selvagem que, sedento por chegar à fonte de água, passa território alheio e tem plena consciência disso. Ao chegar ao outro lado da estrada, ao seu oásis, mira de soslaio, triunfante, o automóvel que reinicia a sua marcha. Engraçado é também o facto de esta diferença sexual se começar as esbater com a idade. Efectivamente, os velhos têm a peculiar característica de errarem sempre a passadeira. É ver os automobilistas a fazerem autênticos slalons a evitar os idosos, quais pinos prostrados nas estradas de Portugal... Cientistas avançam que, a partir de uma certa idade, o ser humano já não consegue estabelecer qualquer relação de Poder. Ou pode ser simplesmente, falta de visão...

1 comentário:

Xana disse...

www.tudoparafalar.blogspot.com

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