Ene Capítulos

Blog sem censura. Aqui há escrita, críticas, opiniões e tudo o resto. Fala-se de tudo sem tabus. Do facto mais erudito, ao evento mais banal. Podem comentar o que quiserem e da forma e linguagem que entenderem.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

O NATAL DA CABRAL

No dia de Natal, o DN publicou uma crónica da Sra. Helena Sacadura Cabral, que denota o espírito democrata desta criatura. Começa por se atirar com unhas e dentes, ao espírito consumista desta época de boa vontade. Chega ao cúmulo de generalizar a ideia de que ao enchermos as crianças de presentes, tentamos, de certa forma, preencher lacunas que poderão ser deixadas durante o ano por alguns pais e até alguns avós. Mesmo que assim pense, a situação deverá ser escrita ao contrário. O esforço de educação e acompanhamento dos filhos por parte dos seus pais são, invariavelmente, deitados por terra por avós que enchem os netinhos de mimos e prendas. Esta senhora deveria saber do que estou a falar, dado que já tem idade para ser avó. A troca de presentes são, por si só, uma tradição desta quadra. Ponto final. Não há discussão nesta matéria. Abra bem os olhos, porque o consumismo tem lugar o ano inteiro e não apenas nesta altura. Provavelmente, fruto das políticas económicas liberizadoras que tanto defende.
Após esta primeira pedrada, Helena Sacadura Cabral, insurge-se contra o conselho do Governo de que escolas e locais públicos não deverão ostentar símbolos de carácter religioso. Saliento, no entanto, que esta medida só deverá ser posta em prática, quando existirem queixas ou críticas a estas situações, ou seja, quando alguém se sente lesado ou insultado. Ao que parece, esta figura da nossa sociedade ficou especialmente aborrecida, não tanto pela retirada de alguns crucifixos, mas mais pela extinção das fotografias de António Oliveira Salazar (um autêntico Deus para esta senhora). O preocupante é quando sugere que o Estado, sendo laico, não deveria utilizar as festas religiosas para transformar em feriados, embora o diga ao contrário. Segundo Cabral, “o Estado laico (...) não se importa de aproveitar os diazitos de descanso que os santos da instituição [Igreja] lhe continuam a permitir”. Em primeiro lugar, minha senhora, o Governo é que estabeleceu os dias de descanso e não a Igreja, para muita pena sua. Quem permite os diazitos de descanso é o Estado aos católicos. Segundo, os dias são verdadeiramente de lazer para a população laica, pois os católicos têm que se preocupar com o não comer carne ou ir à missa do Galo ou rezar o terço ou outra coisa qualquer, obrigações que eu não tenho. Aliás, se pensarmos um pouco, chegamos à brilhante conclusão que a Igreja só trabalha, verdadeiramente, nos dias que são de lazer para o povo em geral – domingos e feriados religiosos. De qualquer forma, julgo não estar a ser incorrecto afirmando que, ainda antes do aludido nascimento de Jesus, existia já uma festa dita “pagã”, na mesma altura do ano.
Assim, partindo do princípio que a população não católica não tem “moral” para gozar os feriados religiosos, o contrário também é verosímil. Ou seja, a Sra. Cabral não deveria gozar feriados, como por exemplo, o 5 de Outubro. Efectivamente, o dia que celebra a implantação da República, não faz qualquer sentido para uma pessoa que ainda vive na Idade Média. O mesmo se aplica ao 1º de Dezembro, dia da Restauração, já que acredita que o Estado se deve reger pelas leis do Vaticano, ou o 25 de Abril, por razões óbvias.
Mas, nem tudo é negativo nesta crónica. Ideias revolucionárias são lançadas, como por exemplo, a abolição das cinco chagas que adornam o escudo armilar da bandeira nacional. Eu defendo que deveríamos ter uma nova bandeira, com design exclusivo, feita por alguém com créditos firmados no mundo da moda. É que esta bandeira é muito foleira, principalmente na escolha e combinação de cores. O que é aquilo de verde e vermelho? Na minha modesta opinião, o novo estandarte deveria ser desenhado por Fátima Lopes. Quanto ao Cristo-Rei acho que a representação de um gajo de cabelo comprido e de barbas está totalmente démodé. Hoje em dia, esta imagem é mais conotada com um hippie. A nova representação de Cristo deveria ser um indivíduo calçado com sapatos de vela, vestido com um polo e com o cabelo, de tamanho médio, penteado com risca ao lado, sendo que a franja deve descair ligeiramente sobre o olho direito. A Igreja deveria pensar nisso.

PS – Gostaria de pedir à Sra. Helena Sacadura Cabral, como católica convicta, que usasse a sua influência junto da Igreja Católica, na tentativa de transferir a Páscoa para um dia útil, já que um feriado ao Domingo não dá jeitinho nenhum...

Sem comentários:

Powered By Blogger