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quarta-feira, dezembro 14, 2005

O RITUAL

Alguém me consegue explicar o estúpido ritual do Homem de prestar homenagem aos mortos? Acontece, fundamentalmente, nos aniversários de grandes catástrofes, actos terroristas ou intensos massacres de guerra. Não percebo é qual é a finalidade. Sim porque os falecidos não vão conseguir ouvir o poema escrito pelos alunos da escola primária, nem mesmo ver a exibição do esquadrão de aviões da força aérea. Os únicos espectadores destes acontecimentos são os vivos, no entanto a homenagem é para os que perderam a vida, não deixa de ser contraditório. No meio desta dialéctica existe uma evidência que salta à vista: estas cerimónias servem para prolongar a angústia de todos aqueles que perderam os entes queridos. Tem toda a lógica de lembrarem a essas pessoas todos os anos o que realmente aconteceu! Tipo, toma atenção que faz hoje cinco anos que perdes-te o teu pai ou faz hoje oito anos que faleceu a tua tia, etc...

Recentemente, o ataque aéreo a Pearl Harbour completou o 64º aniversário (se fosse funcionário público, essa bela profissão que ninguém sabe ao certo o que é, mas pode abarcar 50.000 ofícios diferentes, já estaria aposentado). Isto significa que, mesmo que este massacre não tivesse ocorrido, a maioria das pessoas então falecida já estaria morta ou muito acabadinha. Mas, o verdadeiro choque surgiu numa filmagem televisiva da cerimónia. Um gajo velho, sobrevivente da tragédia, branco como a cal, com uma camisa às palmeiras e uma boina militar cheia de pins, fazia continência enquanto tocava o hino norte-americano e ao longe era içada a bandeira. Esta imagem ficará gravada para sempre na minha mente. Não que eu tenha qualquer ente querido entre os falecidos nesse dia. A questão é que a violência destas imagens foi tal que, a existir um Inferno, esta é a representação mais fidedigna que me foi possível vislumbra até hoje. Porra! O homem parecia um fantasma, com um bivaque na tola...

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