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sexta-feira, outubro 14, 2005

A vida é um romance

Não posso acreditar! Como é que aquela cabra...? Não posso. Ainda a semana passada aceitou o meu pedido de casamento. Agora faz-me uma destas. Na nossa cama... E para mais, com o meu melhor amigo! Ah, mas isto não fica assim. Eu vou, eu vou... Vou... não vou nada! O que é que posso fazer.
Vejam bem que até teve a lata de perguntar: “O que é que tás aqui a fazer?”. Mas que raio de pergunta. Realmente o que estaria ali a fazer, no meu próprio lar? Maldita. Deu-me vontade de responder: “Oh nada, nada. Tava a passar aqui perto da MINHA CASA e apeteceu-me entrar para assistir a uma cena de sexo tórrido, entre a MINHA NOIVA e o MEU MELHOR AMIGO! Só isso. Mas não se incomodem! Podem continuar.” Mas, nada disse. Mantive-me quedo e em silêncio por instantes.
Foi só quando o meu amigalhaço disse vira-te, que ela me viu. Gélida, fixou-me o olhar. Tapou-se instintivamente com o lençol, como se eu fosse um mirone que nunca a tivesse visto nua, ao mesmo tempo que fazia a tal pergunta. Como se houvesse possibilidade de não ter visto sua nudez, numa relação que contava já com oito anos de namoro, dos quais três a viver em conjunto.
Virei costas e precipitei-me para a saída. Ela saltou da cama e veio atrás insistindo: “Mas o que fazes em casa a estas horas?”. Mantive-me calado. Era o que melhor sabia, e podia, fazer. “Volto ao fim da tarde” – disse à porta do apartamento – “espero que vocês já cá não estejam.” Saí sem dar tempo de reacção.
Depois foi o corrupio, o carrossel de imagens e pensamentos a trespassar a minha mente, de forma psicadélica e aleatória. Dos pensamentos mais esquizofrénicos, com sangue à mistura, aos inevitáveis ela vai voltar, aquilo foi um erro, um impulso.
Na realidade sentia-me aliviado, embora o punhal cravado nas costas doesse demais, tornando quase imperceptível o sentimento de leveza que me preenchia. Mais valia ter acontecido agora. Imaginem que era daqui a 10 anos, já com dois filhos e um cão, numa moradia suburbana. Assim é que a cicatriz não sarava. Ao menos o apartamento era meu. Tecto para me abrigar não haveria de faltar.
Para dizer a verdade há muito que as coisas não iam bem. No entanto, mantivemo-nos juntos, qual vício inebriante. A rotina e o conformismo transforma-nos em móveis. Isso mesmo, móveis. Como cadeiras ou estantes, daquela mesma casa onde habitamos. Criamos raízes profundas e inabaláveis. E somos tomados por uma espécie de amnésia instantânea. Nunca nos conseguimos lembrar como é que era a vida antes daquele relacionamento. O que fazíamos, onde parávamos, com quem andávamos. O romper de um compromisso duradouro é um segundo nascimento. Temos de reaprender a viver.
Não sentia ciúmes. Por incrível que possa parecer acho que jamais senti. Apenas a traição, vulgo cornos, me feria o orgulho. Sempre estranhei os encontros vespertinos para café entre os dois. Mas nunca quis acreditar. Amigos havia que me diziam: “Tem cuidado! Ela não é boa rês!”, mas nunca liguei. Costuma se dizer o cornudo é sempre o último a saber. Sempre fui um indivíduo que confiava totalmente nas pessoas. Podiam estar a enganar-me escandalosamente e eu nem notava. Ainda por cima o meu melhor amigo. Ela nem o conhecia bem. Só os apresentei há uns 3 ou 4 anos? A pergunta inevitável. Será que dura há muito tempo? E depois. Será ele melhor que eu na cama?
Mas isto é um lugar comum. Parece os filmes. É sempre com o melhor amigo, que um homem é traído. E até pode nem ser por alguma razão em especial. Só porque sim. Não era por falta de sexo de certeza, já que essa faceta era a única da nossa vida privada que se mantinha como antes, em frequência e em qualidade. Excepção feita para o caso dela ser ninfomaníaca e eu nunca ter descoberto. Aí a coisa muda de figura...

Tenho para mim a seguinte teoria, quanto à chamada traição:

  1. Acontece sempre com o teu melhor amigo, ou pessoa mais próxima (facto).
  2. Logo é a pessoa, exceptuando a tua mãe, que melhor te conhece (facto).
  3. É também a pessoa que mais sabe sobre a tua relação e sobre a tua parceira (facto).
  4. É quase sempre um gajo mais moderno que tu, ou que pelo menos assim o tenta demonstrar (facto).

Posto isto:

  1. Conhece bem os teus passos e por onde te movimentas.
  2. Sabe como és – sagaz conhecedor dos teus defeitos e virtudes.
  3. Tem conhecimento intrínseco das falhas na tua relação e dos desejos da tua parceira, dada a sua posição exterior e “imparcial”.
  4. Ele é, invariavelmente, um excelente actor. Tem a capacidade de se mostrar aos olhos dela como o gajo que tu não és, mas que ela nem se importava que fosses.

Para rematar, ressalvasse que a célebre frase – “As mulheres dos meus amigos são homens para mim.” – é a maior tanga de todos os tempos. Principalmente quando se fala do teu melhor amigo.
Portanto não há escapatória. O grande segredo é manteres-te solteiro e sempre bem próximo dos relacionamentos dos teus amigos. Quem sabe se a próxima oportunidade não será minha... Posso tentar ser eu o matador.
Quem é que estou a enganar… Nunca tive grande jeito para isso. As pessoas notam sempre quando estou a representar. Mesmo na escola, eu era aquele puto que não conseguia mentir. A professora perguntava: “Porquê que ontem não vieste à escola?”. Eu respondia: “Stôra, ontem tive doente. É verdade, muito doente. Pois doente... Hum... Fui p’ró salão de jogos...”. PIMBA! Falta a vermelho e informação para o encarregado de educação.
Sempre fui o tanso. Tomado pelo otário. Engrupido a torto e a direito. O indivíduo que quando emprestava dinheiro, estava na realidade a dar, pois nunca mais lhe via a cor. O gajo que quando emprestava um disco, nunca mais ouvia essa música...
Bem... Já é tarde. Se calhar é melhor desencostar-me do bar e voltar para casa. Já estou um pouco alterado. Correcção, estou perdido de bêbado. Vou passar uma boa noite de sono. Sozinho e descansado. Ao menos não vou ser pontapeado e esmurrado durante a noite. Já nem janto. Hoje morri. Amanhã renascerei... E com uma daquelas ressacas que não conhecia há 15 anos. Que raio de maneira de começar uma nova vida. Com a cabeça a explodir e a boca a saber a papéis de música.

Capítulo@2005

2 comentários:

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